terça-feira, 29 de junho de 2010
A oração: Uma força real para a mudança
A oração: Uma força real para a mudança
Escrito por Matilda Buck, responsável da DF da SGI-USA
Publicado no World Tribune de 09 de Junho de 2000
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Uma mulher caminha ao longo da margem do rio, buscando a maneira de cruzar para a outra margem. Finalmente, vê alguém no lado oposto e grita, “Olá, como faço para chegar à outra margem?”.
A outra pessoa responde-lhe: “Mas, se você já está nela!”.
Perspectiva. A perspectiva em tudo, especialmente na vida, pode significar a diferença. De fato, uma mudança na perspectiva – especialmente para uma mais clara e elevada – é um dos grandes benefícios de nossa prática budista. Neste artigo, gostaria de tratar a perspectiva da ótica da oração. Além do mais, nossa prática implica orar com o melhor enfoque, duas vezes ao dia. Como podemos então fazer dessa oração uma força real de mudança em nossas vidas?
Eis aqui um teste de verdadeiro-falso.
“Quando oro perante o Gohonzon... “
• Sinto que há algo errado em mim
• Duvido que possa superar meus problemas
• Duvido que possa atingir minhas metas
• Sinto-me como uma vítima perante a vida
• Identifico-me com os mártires e os penitentes
• Sinto que não mereço orar pela minha própria felicidade
• Quero que o Gohonzon me recompense
• Creio que o Gohonzon está castigando-me
• Quero que o Gohonzon me salve
Se você respondeu afirmativamente a pelo menos uma das opções, primeiro não se sinta sozinho ou sozinha. Segundo, continue lendo.
O Budismo de Nitiren Daishonin capacita e potencia a cada pessoa para que manifeste sua Budicidade. Esta é uma postura consciente que devemos assumir enquanto oramos. Repita comigo:
“Na minha essência eu sou um Buda. Eu posso contatar este poder através de minha forte oração. Posso agir para conquistar meus desejos e posso fazer uma contribuição ao meu universo”.
Soa bem, mas para muitos de nós, esta é uma postura difícil de sustentar.
As atitudes auto-limitantes (“Há algo errado em mim, as coisas sempre me saem mal“) parecem freqüentemente naturais e reais, porém, a verdade – que SIM somos Budas – pode parecer artificial, pouco natural e inclusive prepotente e arrogante.
Assim é como nos sentimos, mesmo quando Nitiren Daishonin nos diz repetidamente em suas escrituras, que nossa verdadeira identidade é a Budicidade. Mesmo quando o Sutra de Lótus, que repetimos duas vezes diariamente, revela que todos têm uma identidade mais profunda da qual podemos realizar esta oração geradora de energia e sabedoria, fica ainda no plano da teoria para muitos de nós.
Para comemorar definitivamente a reunião da Divisão Feminina de Fevereiro de 2000, o Presidente Ikeda nos enviou uma linda mensagem na qual apontava precisamente este aspecto; pediu-nos que fossemos felizes baseando-nos na nossa forte e profunda oração.
Ele se referia à carta de Nitiren Daishonin, “A única frase essencial” (em português “Resposta a Myoho-ama“), na qual lee-se o seguinte:
“Mesmo quando não leia nem estude o Sutra, repetir somente o título (Myoho Rengue Kyo), é uma imensa fonte de boa sorte. O Sutra ensina que homens e mulheres, e todos aqueles que transitam nos âmbitos da animalidade e inferno – de fato, todos os seres dos dez mundos – podem obter a Budicidade em sua forma atual. Isto é uma maravilha incomparavelmente maior que o fogo produzido por uma pedra pega do fundo de um rio, ou a de uma lanterna iluminando uma caverna sumida na escuridão por cem, mil ou dez mil anos. Se até as coisas mais comuns do mundo são assim maravilhosas, então, quanto mais maravilhoso é o poder da Lei Mística.” (WND, pág. 923).
Na sua mensagem, o Presidente Ikeda se centra na frase sobre a lanterna que instantaneamente ilumina uma caverna sumida na escuridão até por dez mil anos. Ele escreveu o seguinte:
“No momento que nos sentamos frente ao Gohonzon e oferecemos as orações, o sol da Budicidade, o estado original de iluminação inerente em nossas vidas, manifesta-se, projetando ao exterior nossas brilhantes luzes“.
Mas, quantos sentamo-nos com esses sentimentos enquanto estamos orando perante o Gohonzon? Até faz alguns anos, eu não o fazia.
Não me mal-interpretem. Nas minhas duas primeiras décadas de prática, eu tinha passado de ser uma pessoa triste e confusa, para ser outra que podia sentir-se otimista a maior parte do tempo. Fui capaz de transformar certas situações difíceis e agradecia ter encontrado uma forma de viver nobre e plena de sentido.
Também aprendi como lidar melhor com a dor na minha vida. Tinha mantido essa dor numa caverna profunda e escura no fosso de minha vida, apartada de minha consciência. Mas podia senti-la a um nível muito profundo. Assim é como eu a tinha custodiado cuidadosamente toda minha vida, dando voltas ao seu redor para não ter que enfrentá-la. Converteu-se em uma pequena voz que me dizia que sempre viveria na dor, com restrição. Eu podia acumular uma quantidade enorme de causas positivas, além de seus efeitos respectivos; eu podia melhorar minha situação, crescer espiritualmente, mas aquela caverna obscura parecia permanecer intacta.
Só até que a lanterna – ou seja – o Nam-myoho-rengue-kyo, deixou exposta essa caverna e deu-me suficiente luz, para finalmente poder ver essa realidade. Não obstante, não foi um processo fácil.
“Me pergunto“ – dizia-me a mim mesma – (e “pergunto” foi realmente o começo do processo), “se eu realmente acredito que a essência de minha vida é Nam-myoho-rengue-kyo ou, pelo contrário, tenho esta aceitação profunda da dor, a crença de que nunca estarei sem ela?“
O que obtive como resposta foi um “choque”: “Você sempre tem vivido com esta dor”, disse minha pequena voz na caverna. “Não existe alternativa. Esta é a verdadeira realidade da tua vida”.
Outra voz se opôs dizendo: “Nitiren Daishonin diz que a realidade fundamental da tua vida é Nam-myoho-rengue-kyo – a Budicidade –“
EU POSSO SER REALMENTE FELIZ!”
Como podia eu merecer esse tipo de felicidade?. Pensei: “Bom, se sou um Buda, deveria ser feliz; mas, para ser honesta, não consigo imaginar-lo. Não soa bem isto de ser feliz”. O que podia fazer?
Decidi tentar uma nova perspectiva. Orar desde a perspectiva de um Buda. Por um momento o fingi. Continuava, repetindo-me: “Minha vida é Nam-myoho-rengue-kyo. Eu sou um Buda. Estou vivendo como um Bodhisattva da Terra; por tanto, posso extrair este poder e resolver meu problema. Não somente mereço ser feliz, devo converter-me numa pessoa feliz; assim é como demonstrarei a Grande Lei”.
Devido a que estava tentando orar desde uma perspectiva diferente, uma perspectiva positiva, comecei a ver as coisas de modo diferente. Pequenas mudanças, quase imperceptíveis, começaram a aparecer. Pensem na caverna: nada pode ser mais imutável que um lugar que tem estado na escuridão por 10.000 anos. Mas, mesmo uma minúscula luz, continuamente vertida sobre ela, tem um efeito imediato, por mais imperceptível que este seja.
A vida que necessita da escuridão absoluta não pode continuar: evoluciona ou desaparece. A vida que necessita de luz, começará a desenvolver-se. A ecologia da caverna não voltará a ser igual.
Isso foi o que aconteceu em minha própria vida desde que mantive fluindo essa luz de minha Budicidade, essa perspectiva consciente. Em um ano, tinha transformado um problema concreto que tinha estado comigo durante toda minha vida. O interior de minha caverna que nutria-se da escuridão, se encolheu; e o que necessitava de luz cresceu, prosperou, floresceu em uma inegável felicidade.
Teoricamente, tinha conhecido estes princípios por longo tempo, mas creio que a dúvida inconsciente de que eu pudesse mudar alguma vez essa parte de minha vida era tão forte que sufocava qualquer esperança de tentar. De modo que, freqüentemente orei como se o Gohonzon “lá fora” pudesse recompensar-me pelo meu bom comportamento, mas certamente eu não tinha o poder de mudar isto, era demasiado eterno e onipresente.
Mudar conscientemente a perspectiva na minha oração, colocando-me na perspectiva de que eu era um Buda e tinha o poder da Budicidade, ajudou-me a superar minha dúvida e a continuar até que vi a vitória.
No que diz respeito à oração, vencer as dúvidas é algo grandioso. Orar desde a perspectiva vencedora da Budicidade nos ajudará a sobrepor-nos à dúvida. O presidente Ikeda nos incentiva da seguinte maneira: “Existe algo inegável: o poder de acreditar, o poder do pensamento, movimentam a realidade na direção do que acreditamos e temos concebido. Se o Sr. realmente acredita que pode fazer algo, na verdade pode. Isto é um fato. Quando o Sr. pode visualizar claramente um resultado vitorioso, o grava em seu coração e está firmemente convencido de obtê-lo, seu cérebro fará todo o esforço para concretizar a imagem mental que o Sr. tem criado. E então, através dos esforços incessantes, essa vitória se tornará finalmente uma realidade”.
Para encerrar gostaria de compartilhar alguns pontos para desafiar a dúvida. No ano passado, no “World Tribune”, o editor chefe, Ted Morino, explicou que uma fé livre de dúvidas não é uma condição fixa e que não quer dizer uma fé que não questiona. De fato, os questionamentos são bons; nos conduzem a aprofundar na fé e a fortalecer nosso estado de vida. A medida que lutamos com a dúvida, construímos uma convicção própria e mais profunda.
Quando tomamos a decisão: “Vou olhar isto da perspectiva da Budicidade”, não só as portas dos meus próprios temores, ou do meu cinismo, ou do que seja, se abrem.
Ted descreve o processo de superar a dúvida e ganhar ambas, a confiança em si mesmo e uma prática mais forte, baseando-nos nas nove consciências:
• Primeiro, usando a sexta consciência, escolha orar com confiança no Gohonzon e na Budicidade inerente em nossas próprias vidas. Faça isto com o esforço de 100%. Isto é: oração mais ação, para vencer dia a dia. (Isto refere-se às primeiras seis das nove consciências: os cinco sentidos – visão, audição, olfato, paladar, tato – e o pensamento consciente)
• Segundo, persevere neste tipo de esforço. Desta maneira estamos incrementando a confiança em nós mesmos inconscientemente (a sétima consciência).
• Terceiro, enquanto continuamos neste sentido, desde a perspectiva do estado de Buda, “confiar em nós mesmos se converterá em nossa tendência”, escreve Ted Morino, “o que é chamado carma” (a oitava consciência).
• Quarto, a medida que praticamos o Budismo com sentimentos positivos, nossa alegria e autoconfiança aumentam, desfrutando verdadeiramente o fato de viver, experimentando a plenitude da Lei. Esta é a prova de que podemos fortalecer nossa Budicidade (a nona consciência). Nesta condição de vida, a autoconfiança – nossa confiança na Budicidade - é inamovível.
Como as duas pessoas que viam-se cara a cara das margens do rio, a felicidade é uma questão de perspectiva. Depende de onde escolhe você parar-se. Para alcançar nossa própria grande felicidade, para ter a benevolência e o vigor de servir à humanidade, necessitamos o poder da perspectiva da Budicidade.
Nós já estamos, todos, na outra margem.
Através de uma oração plena de poder poderemos começar a conhecer esta verdade.
Tradução: Ariel Ricci aricci@estadao.com.br
Revisão: Marly Contesini contesini@estadao.com.br
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